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Direitista e comunista vão a segundo turno no Chile

Eleição chilena mostra que politicas de esquerda não convencem mais as massas.

Redação
Por: Redação Fonte: DW, Reuters
17/11/2025 às 18h20
Direitista e comunista vão a segundo turno no Chile

O primeiro turno da eleição presidencial chilena colocou no segundo turno a comunista Jeannette Jara e o conservador José Antonio Kast, numa disputa que expôs o profundo descontentamento com políticas de partidos de esquerda.

Jara ficou à frente com cerca de 26,8% dos votos, enquanto Kast obteve cerca de 23,9%, resultado que levou os dois para o segundo turno em dezembro. 


A performance de Jara ficou muito abaixo das expectativas de pesquisas que a colocavam como favorita, e o resultado revela um eleitorado dividido e insatisfeito — sobretudo com o que muitos eleitores apontam como falhas nas políticas implementadas pela coalizão de governo de esquerda. Esse mal-estar é perceptível nas ruas e nas urnas: parte do eleitorado atribui à esquerda a incapacidade de responder com eficiência a problemas cruciais do cotidiano, como segurança, emprego e inflação. 

A criminalidade e a sensação de insegurança foram temas centrais da campanha, mesmo com o Chile figurando entre os países mais seguros da região em alguns indicadores. A preocupação com ordem pública e imigração foi explorada pela direita como sinal de que as políticas de esquerda não teriam garantido proteção suficiente às comunidades — uma linha que impulsionou o discurso de Kast e atraiu eleitores jovens e conservadores.


Kast, que defende uma agenda conservadora e rígida em segurança e imigração, subiu ao palanque prometendo "mudança radical" na política de segurança, ecoando o descontentamento de eleitores que pedem medidas mais duras. Seus apoiadores afirmam que o país precisa de mão firme para restabelecer ordem, atrair investimentos e criar empregos — uma narrativa que tem encontrado ressonância em setores frustrados com a gestão da esquerda. 
Do outro lado, Jara — ex-ministra do Trabalho e Previdência Social e candidata apoiada pelo presidente Gabriel Boric — tentou capitalizar o legado de políticas sociais do governo, propondo aumento do salário mínimo e expansão de programas de bem-estar.

Ainda assim, sua ligação com o Partido Comunista e o desgaste do governo Boric limitaram sua capacidade de atrair eleitores de centro, que hoje demonstram crescente ceticismo sobre as promessas de reformas de esquerda. 

O pleito ocorre num contexto de desgaste político acumulado desde os grandes protestos de 2019 e uma sequência de eleições e pleitos que desgastaram a confiança nas instituições tradicionais.

A popularidade do governo Boric, que chegou a ostentar grande apoio após 2021, hoje se encontra bastante reduzida — um fator que ajuda a explicar o aumento do voto de punição contra a esquerda. 

No Legislativo, a direita foi a força que mais cresceu, ampliando sua presença tanto na Câmara quanto no Senado, ainda que nenhuma força tenha conseguido maioria clara. Essa evolução parlamentar confirma um movimento mais amplo: eleitores castigando a centro-esquerda nas urnas e abrindo espaço para alternativas conservadoras que prometem restaurar segurança e estabilidade. 

Com o país polarizado e o eleitorado dividido, o segundo turno será uma nova prova do clima de insatisfação: será uma corrida para ver se a promessa de maior ordem e austeridade de Kast convence a maioria, ou se a agenda social de Jara consegue reconquistar os moderados que hoje demonstram cansaço com a esquerda.

O que ficou claro no primeiro turno é que, além do resultado imediato, a votação reflete uma onda de descontentamento — no Chile e em muitos lugares da região — com políticas de partidos de esquerda que, aos olhos de uma parcela expressiva da população, não cumpriram plenamente as expectativas. 

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