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Corrosão do poder de compra brasileiro em 2025

Brasileiro come menos

Redação
Por: Redação Fonte: IPCA
11/11/2025 às 12h03
Corrosão do poder de compra brasileiro em 2025

Em 2025, o Brasil convive com uma inflação persistentemente alta, corroendo o poder de compra das famílias.

Dados do IBGE mostram que o IPCA (inflação oficial) acumulou cerca de 4,7% em 12 meses até outubro de 2025, valor que ultrapassa o teto da meta oficial (4,5%). Esse aumento generalizado de preços – sobretudo em itens essenciais como alimentação, habitação, transporte e energia – pressiona fortemente o orçamento familiar, especialmente das camadas mais baixas. Este artigo analisa esses efeitos no consumo das famílias e os desafios enfrentados pelo governo e o Banco Central para controlar a inflação.

Dados recentes (2025): Entre os principais indicadores de 2025, destacam-se:

  • IPCA oficial: 0,09% em out/25; acumulado de 3,73% no ano e 4,68% em 12 meses.
  • Alimentação e bebidas: deflação de 0,26% em set/25; inflação acumulada de 12 meses de 6,61% (bem acima da média geral).
  • Habitação e energia: grupo Habitação subiu 2,97% em set/25 puxado pela energia elétrica (+10,13% em um mês); no acumulado do ano até out/25, a energia residencial já subiu +13,64%
  • Transporte: praticamente estável em set/25 (+0,01%); em out/25 houve alta de +0,11% refletindo aumentos moderados em combustíveis e passagens aéreas.
  • Aluguel residencial: índice FipeZAP de locação subiu +0,55% em set/25; acumulado de +7,42% no ano e +9,93% em 12 meses (bem acima da inflação geral).
  • Salários médios: renda média habitual de R$ 3.484 no 2º tri/25, com aumento nominal de 3,8% no ano

Impacto no Consumo Familiar. Esses dados mostram que os preços de itens básicos consomem fatia crescente do orçamento das famílias. No caso da alimentação – item de maior peso na cesta de consumo – apesar de quedas mensais pontuais (–0,26% em set/25, a inflação acumulada de alimentos permanece alta (6,61% em 12 meses. Outros bens de consumo essenciais também pressionam: as tarifas de energia dispararam em 2025 (alta de 10,13% na conta de luz em set/25, e mesmo após a redução da bandeira tarifária a energia residencial acumula +13,64% no ano. Com isso, as famílias – sobretudo as de renda baixa – são forçadas a destinar cada vez mais de sua renda à alimentação, moradia (aluguel) e contas de energia, reduzindo o consumo de bens não essenciais (por exemplo, lazer, vestuário ou bens duráveis). Esse reajuste dos gastos básicos restringe o acesso a bens e serviços essenciais como alimentação adequada, habitação digna e transporte, afetando diretamente a qualidade de vida.

Desigualdade no impacto inflacionário. A inflação elevada atinge de forma diferenciada as classes sociais. Pesquisa do Ipea revela que em setembro/2025 as famílias de renda muito baixa tiveram inflação de 0,59% naquele mês (principalmente por um reajuste de 10,3% na tarifa de energia elétrica), o dobro da taxa observada nas famílias de renda alta (0,35%). No acumulado de 12 meses até set/25, a alta inflacionária das famílias de baixa renda chega a 5,37%, acima dos 5,02% registrados pelas de renda alta. Em outras palavras, quem ganha menos sofre mais com a elevação de preços, pois consome proporções maiores de bens voláteis (alimentos, energia, transporte). Isso aprofunda as desigualdades: os mais pobres veem sua renda real corroída em maior escala, enquanto as camadas mais abastadas conseguem amortecer parcialmente o choque de preços.

Erosão da renda real. Paralelamente, os salários não têm acompanhado a inflação. O rendimento médio habitual de R$3.484 (2º tri/25) cresceu modestos 3,8% no ano – abaixo do aumento de preços acumulado de 12 meses (~4,7%). Assim, há perda de poder aquisitivo: em termos reais, os salários médios caíram aproximadamente 0,8% no período. Essa erosão da renda real significa que, na prática, o trabalhador compra menos com o mesmo salário, obrigando famílias a contingenciar despesas (adiando compra de remédios, formando estoques mínimos de alimentos etc.). A combinação de inflação acima do ganho salarial mina o poder de compra e pode levar à queda no nível de vida das famílias.

Desafios para governo e Banco Central. Para conter a inflação, o Banco Central mantém postura monetária restritiva: a taxa Selic está em 15% ao ano em 2025, nível mais elevado em quase duas décadas. Mesmo assim, as projeções de mercado indicam inflação de 4,55% em 2025, acima do teto da meta (4,5%). Esse cenário obriga o BC a equilibrar juros altos sem desestimular demais a economia. O governo, por sua vez, lida com pressões orçamentárias e tarifárias. Por exemplo, a Aneel aumentou a projeção média de reajuste das tarifas de energia para 6,3% em 2025 (ante 3,5% inicial) índice que supera a inflação esperada e pressiona ainda mais o IPCA.

Ademais, subsídios e encargos (como despesas da CDE e bandeiras tarifárias) continuam elevando os custos aos consumidores, limitando ações de redução de preços. Na prática, medidas de alívio pontuais (como rebaixar bandeiras tarifárias) têm efeitos temporários, enquanto a manutenção de juros altos e a política fiscal austera são exigidas para evitar um ciclo inflacionário descontrolado.

Conclusão. Em síntese, a inflação generalizada de 2025 tem efeitos negativos profundos sobre o poder de compra dos brasileiros. Os aumentos de preços em alimentação, habitação, transporte e energia corroem a renda real das famílias, restringindo seu acesso a bens e serviços de primeira necessidade. As camadas de baixa renda sofrem esse impacto de forma desproporcional, ampliando disparidades sociais. Ao mesmo tempo, governo e BC enfrentam um dilema: combater a inflação sem paralisar a economia. Enquanto a Selic elevada (15%) tenta conter as expectativas inflacionárias, reajustes de tarifas e pressões externas mantêm a inflação acima do desejável. Se o IPCA permanecer acima da meta, o resultado será a perda contínua do poder de compra e dificuldades para recuperação do consumo. O cenário de 2025 indica, assim, que será necessário coordenar políticas monetária e fiscal rigorosas, além de ações estruturais (como aumento da oferta de alimentos e energia), para proteger o poder de compra da população, especialmente dos mais vulneráveis.

Fontes: Dados do IPCA e de grupos de consumo são do IBGE e de estudos setoriais; informações de renda vêm da PNAD/IBGE e de análise do Ipea; projeções de inflação e juros são do Boletim Focus/Banco Centraldados de tarifas de energia são da Aneel.

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