
O que vinha sido anunciado pelo governo brasileiro como a “COP do Povo” e uma oportunidade para recolocar o Brasil no centro das negociações climáticas terminou em cenas de caos, acordos diluídos e um impacto político que já é descrito por analistas como um “fiasco” para a presidência brasileira da conferência.
Entre problemas logísticos, controvérsias sobre conteúdo do acordo e um incêndio que forçou evacuações, a Cúpula do Clima deixou tanto ativistas quanto grande parte da diplomacia internacional insatisfeitos.
Na reta final das negociações, um incêndio em área de pavilhões — que obrigou à evacuação e deixou pelo menos treze pessoas com sintomas de inalação de fumaça — interrompeu o trabalho dos delegados em um momento crítico, adiando decisões e amplificando críticas sobre a organização e a segurança do evento. Autoridades afirmaram que o fogo foi rapidamente contido, mas as verificações de segurança atrasaram o calendário das plenárias num momento de elevada tensão.
Diplomacia fragilizada e um texto final aquém do esperado
Os resultados políticos foram igualmente controversos. Ao fim das duas semanas, a presidência brasileira conseguiu aprovar um acordo considerado “com promessa de aumento de financiamento” para países vulneráveis — entre outros pontos apresentados pela própria presidência como avanços —, mas o texto final deixou de incluir menções a um roteiro claro para a transição dos combustíveis fósseis, uma das demandas centrais de dezenas de países e de movimentos ambientalistas. A omissão do termo “combustíveis fósseis” e a ausência de um plano vinculante de redução de petróleo e gás foram apontadas como sinal de recuo nas negociações.
Organizadores e defensores do acordo tentaram minimizar o tom negativo, destacando compromissos financeiros inéditos na meta de adaptação e assistência a nações mais vulneráveis. A secretária-executiva da UNFCCC e outras lideranças celebraram aspectos do texto como passos práticos, mesmo reconhecendo que o resultado não atendeu às expectativas de parcela significativa das delegações e da sociedade civil.
Críticas locais e narrativas de frustração:
Além das negociações, a própria preparação do evento foi alvo de reclamações: atrasos em obras, aumento de preços para participantes e relatos de falta de infraestrutura para acomodar delegações e organizações da sociedade civil ampliaram as vozes contrárias ao formato e à execução do encontro — pontos que reforçaram a narrativa de que o evento, idealizado para projetar liderança, expôs fragilidades administrativas e políticas. Para parte da imprensa e de comentaristas, o episódio compromete a credibilidade do governo anfitrião e a ideia de um evento “sustentável e inclusivo”.
Reações: ativistas, países em desenvolvimento e blocos ricos
Organizações não governamentais e movimentos pró-ambiente qualificaramm o resultado como “insuficiente” diante da urgência climática, ressaltando que sem metas firmes para reduzir o uso de combustíveis fósseis torna-se difícil confiar que as emissões globais seguirão uma trajetória compatível com o limite de 1,5 ºC.
O que muda para a governança climática global?
Especialistas entrevistados por veículos internacionais avaliam que a COP30 evidenciou dois movimentos preocupantes: a erosão da ambição coletiva em temas centrais (como a retirada dos combustíveis fósseis) e a transformação das negociações em palco de disputas geopolíticas e de credibilidade.
Fechamento — lições dolorosas
A COP30 deixou uma imagem ambígua: com declarações oficiais que exaltam cooperação e passos práticos, mas com críticas contundentes sobre formato, segurança e substância do acordo. Para que a governança climática recupere impulso, analistas apontam a necessidade de transparência na execução dos compromissos financeiros, regras claras sobre transição energética e, sobretudo, confiança política entre países desenvolvidos e em desenvolvimento — uma confiança que neste encontro saiu visivelmente abalada.